O Facebook só se importa com o proprio Facebook.
Algo que é preciso entender sobre as mega-corporações dentro do sistema capitalista é que não importa o quão sustentáveis, conscientes ou justas elas pareçam ser para quem as acompanha pelas propagandas inseridas na mídia ou para quem ouve suas historias em palestras de “empreendedores de palco”. Para concentrar poder, influencia, esmagar concorrentes e manter-se dentro da seleta lista das empresas mais poderosas do mundo uma empresa estabelece relações de poder, algo que está acima da qualidade dos produtos ou do gosto popular.
Sendo claro, o famoso jargão que diz que “o cliente tem sempre razão” pode até ser verdade para o pequeno comerciante, mas para os grandões é balela. O cliente não é (nem de longe) o elemento mais importante dentro da cadeia de pessoas as quais as gigantes do mercado buscam agradar, sendo mais uma preocupação relegada ao departamento de publicidade do que delegada aos que cuidam do que é consumido e dos efeitos que o produto final realmente acarreta na sociedade.
Na verdade o mundo da “alta casta” capitalista gira em torno da simples logica de mais lucro sobre menos gastos, portanto qualquer “consciência social ou ambiental” que venha a contrariar essa logica não será aceita, pois não será compatível com as ambições de crescimento de determinados setores (foi exatamente o que pensou Donald Trump ao cancelar o acordo climático de Paris, por exemplo).
Dentre as instituições que é preciso agradar para permanecer no grupo seleto de “gente graúda” está a instituição conhecida por todos nós como ESTADO, os representantes do estado na piramide de importância para as corporações estão abaixo apenas dos representantes da própria corporação e de outras corporações que se relacionam entre elas (o cliente e o funcionário estão “lá embaixo”).
Quando o estado se concentra nas mãos de determinados círculos pode estabelecer-se então um perigoso relacionamento (por vezes incestuoso) em que “uma mão lava a outra”, gerando privilégios em troca de permanência no poder ou, porque não dizer, patrocínio.
Alguns dos monopólios defendidos pelo estado dentro da sociedade capitalista em que vivemos são óbvios, tais como tarifas, monopólios de mercado e daí por diante. Mas o crescente papel da tecnologia e da internet na contemporaneidade criou o que podemos chamar de monopólios emergentes, dentre os quais podemos destacar hoje empresas como o Google, a Amazon e o Facebook, juntas, elas tem uma capitalização de mercado de US $ 2,8 trilhões (quantia maior que o PIB da França), sendo este último um dos principais canais de difusão de conteúdo e comunicação preponderante entre pessoas com idade entre 15 e 40 anos.
Tendo-se superado as velhas mídias (televisão, rádio e jornais impressos), enquanto únicas detentoras dos meios de comunicação de massa, e tendo as novas mídias indiscutivelmente ocupado um papel central em nossas vidas, a rede social é útil para o estado e representantes da classe politica de várias formas e os grupos poderosos sabem disso.
Para se ter uma ideia, um estudo promovido pela Universidade de Oxford em 2017, apontou evidências sobre a atuação de governos para se valer de ferramentas como o Facebook para influenciar na política. Na pesquisa os acadêmicos norte-americanos descobriram que existem, pelo menos, 29 nações que utilizam de redes sociais para orientar as opiniões do povo de acordo com seus próprios interesses. A atuação de grupos ligados aos governos dentro das redes variariam desde o uso de comentários em postagens no Facebook e no Twitter até a vigilância individual de cidadãos.
Sabemos também (graças aos documentos divulgados por Edward Snowden em 2013), que mesmo dentro dos Estados Unidos é permanente a vigilância através da rede mundial de computadores por um programa chamado “PRISM”.
O PRISM permite aos funcionários da NSA (agencia nacional de segurança dos estados unidos) colher dados que estão em poder de serviços de Internet, como histórico de pesquisas, conteúdo de e-mails, vídeos, fotos, chamadas de voz e transferências de arquivos e vídeo. Uma apresentação em powerpoint realizada na própria NSA e divulgada através do jornal britânico The Guardian afirma ainda que o programa PRISM é executado com a participação das companhias de serviços via internet, Google, Facebook entre outras.
Em setembro de 2016, a American Civil Liberties Union (ACLU) divulgou milhares de documentos oficiais revelando que as agências da aplicação da lei em todo o estado da Califórnia “estavam secretamente adquirindo softwares de espionagem de mídia social que pode incluir ativistas em uma rede de vigilância digital.” O software monitorava “ameaças à segurança pública” rastreando hashtags como #BlackLivesMatter, #DontShoot, #PoliceBrutality, entre outras no contexto das manifestações contra a violência policial movida pelo racismo em seguidos casos de ampla repercussão que ocorreram na época.
Recentemente o Facebook também foi chamado pelo Comitê de Justiça do Congresso norte-americano para explicar seu papel na interferência russa nas eleições nos EUA em 2016, em que elegeu-se presidente Donald Trump.
De acordo com informações publicadas no jornal El pais Trolls do Kremlin publicaram cerca de 80.000 notícias na rede social entre 2015 e 2017, estima-se que estes posts foram vistas por 29 milhões de norte-americanos.
No entanto, o próprio Facebook estima que, considerando o número de vezes que as informações foram compartilhadas, o total de usuários pode ter chegado a 126 milhões. Além disso cerca de 3.000 posts foram anunciados e teriam sido pagos pelos russos para a empresa fundada por Mark Zuckerberg.
Embora seja frequente a publicação de explicações e desculpas por parte do Facebook quanto a censura e a propagação de noticias falsas, seu fundador não parece se preocupar com a interferência de governos na maior rede social do mundo e não apenas tem se mostrado complacente e submisso, como tem buscado cada vez mais reunir-se com os governantes de países que querem fazer do site o sistema de vigilância e dominação mais eficaz do mundo (eles tem conseguido).
Em 2016 o jornalista representantes de Zuckerberg se reuniram com o governo de Israel para determinar o que poderia ou não ser censurado dentro da rede social. As reuniões ocorreram no contexto em que havia movimentações em âmbito legislativo para que fossem apagados os posts que Israel considerasse “incitação a violência”, essas medidas foram destinadas, em especial aos Árabes e Palestinos, um boletim da Associeted Press publicado na época, deixa claro que “Israel argumentou que uma onda de violência com os palestinos foi impulsionada por incitamento, muito espalhado em sites de redes sociais”.
Em 17 de julho do mesmo ano, pressionado por ações até mesmo de ministros Israelenses, como Gilad Erdan o Comitê Ministerial de Legislação do Knesset, aprovou um projeto de lei, que exigiria que o Facebook monitorasse sua própria rede.
De acordo com a própria ministra da justiça Israelense Ayelet Shaked até o momento o Facebook aceitou 95% das 158 solicitações enviadas por Tel Aviv para remover conteúdos que fazem “incitação”. No final do ano passado o jornal britânico The Independent publicou relatório do Centro Palestino de Informação narrando que pelo menos 10 das contas dos seus administradores, em língua árabe e também em língua inglesa- seguidas por mais de 2 milhões de pessoas- foram suspensas, sendo 7 delas permanentemente.
É importante ressaltar que NÃO existem evidencias de que todos os perfis e posts excluídos do Facebook até o presente momento, com base em listas de Tal Aviv, façam defesa ao Hamas, à Fatah ou a qualquer outra organização similar.
E EU COM ISSO?
Bom, se isso ocorre em outros países pode também ocorrer no Brasil, porque não? Por aqui temos a informação de que 55% dos brasileiros consideram que não há nada na internet além do Facebook. Esse dado foi fornecido por uma pesquisa da Quartz divulgada como parte do relatório “Internet Health Report v0.1” de 2015, da Mozilla.
No questionário a Quartz pedia que as pessoas respondessem a pergunta “Você concorda com a afirmação seguinte: o Facebook é a internet?” e o Brasil foi um dos países nos quais a percentagem de respostas positivas foi maior: 55% . Nos EUA, o índice foi de apenas 5%.