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Esta é a América: o povo negro em luta por suas vidas e construindo sua própria esperança

Reprodução/Guava Island/Hiro Murai
Reprodução/Guava Island/Hiro Murai

Dormi no dia 20 de abril com a notícia que de que Derek Chauvin, o assassino de George Floyd, foi considerado culpado pelo tribunal do juri de Minessota. Acordei no dia 21 de abril pensando em “Guava Island” e mal durou, logo veio o tapa na cara da notícia de uma adolescente negra de 15 anos assassinada a tiros por um policial.

Vejam bem, não estou aqui pra falar se é válido ou não apostar no sistema penal para resolver a questão. Eu acredito que a justiça, seja onde for, é baseada em seletividade penal por causa de raça, gênero e classe. Até por que ela é parte da organização do Estado burguês que é estruturado por estas questões.

Ao mesmo tempo que eu não acredito que é esse sistema que irá nos trazer a superação das questão de gênero, raça e classe eu também não acredito que não se deva ouvir as vozes que com a morte de George Floyd também se sentiram sufocadas. É por isso que eu me lembrei de “Guava Island” ao acordar no dia posterior a condenação de Derek Chauvin. Não foi por crença no sistema penal ou no liberalismo.

Lembrei de “Guava Island” por conta desse ímpeto gigantesco que nos consome enquanto povo em diáspora e que luta há séculos a garantia do direito básico de ter reconhecida a sua humanidade. Não há outro nome pra herança que cada um de nós carrega, chegamos até aqui por causa de muita luta dos nossos ancestrais e não por benevolência da branquitude.

“Guava Island” é um filme dirigido por Hino Murai que conta como protagonistas Donald Gloover (Childish Gambino) e Rihanna, pode ser assistido no Amazon Prime. O fime conta a história de um rebelde sonhador chamado Deni Maroon que é apaixonado por sua terra (a ilha Guava), seu povo e sua namorada Kofi Navia. É esse amor e esperança de Deni é o que move o filme e as personagens que moram em Guava serem agentes de sua própria mudança.

Tanto na ficção quanto na vida real agir para mudar a nossa própria condição passa por perdermos os nossos. George Floyd em 2020 foi como um Deni Maroon, mas não só George Floyd, aqui no Brasil tivemos as nossas próprias mortes pelas mãos da polícia para nos levar as ruas. O caso de João Pedro é um dos mais emblemáticos de 2020. Foram dentro das nossas casas nos matar no meio de uma pandemia.

Óbvio que a condenação de Derek Chauvin para nós que vivemos a atrocidade do que é o Estado penal e o encarceramento em massa se apresenta como uma tentativa do Estado de dizer que há policiais bons e maus, quando sabemos que a questão não é bem assim. Mas olhar pra esse processo sem lembrar da intensa mobilização social denunciando o sistema e não apenas o fato é recair em um paternalismo político que não precisamos mais.

Podem me chamar de ingênua, mas ao receber a notícia sobre a condenação aqueceu a minha esperança. Me levou a minha própria “Guava Island” tomada de gente nas ruas dizendo que nossas vidas importam, assim como se dizia que não éramos propriedade na revolução haitiana ou na cabanagem. Mas poder dizer “nós conseguimos o nosso dia” mais uma vez igual Kofi faz em Guava Island é aliviante.

A gente respira e agora é demonstrar que a polícia segue matando nos EUA e aqui no Brasil e a nossa luta contra o nosso extermínio não para nisso, mas para conseguirmos avançar é preciso que estejamos vivos e que seja reconhecido pelo Estado que nossas vidas importam.

Como Deni Maroon canta em “Guava Island”: “sim, esta é a América, armas na minha quebrada” e nos aqui seguimos os passos que vem de longe, encarando as armas nas nossas quebradas, as declarações de quem nos governa dizendo que devemos morrer ou sermos presos; seguimos o caminho marcado por sangue. Mas não nos tiram a resistência, a luta, o amor e a esperança de mudar o mundo, pois ela virá e virá das nossas mãos juntas com as mãos dos nossos irmãos de luta indígenas.

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Written by Luka