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O Massacre de Tilyia

Imagem do MNLA, que enfrenta os jihadistas que cometeram o massacre em Tyilia
Imagem do MNLA, que enfrenta os Jihadistas que cometeram o massacre de Tyilia

Imagem em destaque: membros do Movimento Nacional pela Libertação do Azauad

Por Mahfouz Ag Adnane*

Centenas de civis da população Kel Tamacheque (Tuaregue) são massacradas em Tilliya- Niger.
Um grupo de terroristas, usando motocicletas, atacou, no dia de 25 de março, a localidade de Tilliya, na região de Tilaberi, matando pelo menos duzentas pessoas. A maioria foi queimada viva.


Este ato de barbárie, foi um dos piores que a população tuaregue sofreu desde o massacre de Wadi Charaf, em 1994, cometido pelo exército nacional do Mali, com mais 250 mortos. Antes disso, um outro ataque do exército do Níger, no início do 1990, em Tin Tibaraden, região de Thaoua, resultou em mais de 400 mortos. No ataque de Tilliya, quase toda a população foi exterminada, exceto algumas crianças que vemos nas redes sociais.

Essa nova tragédia em Tilliya ocorreu no dia de feira semanal. A aldeia foi cercada e os terroristas atiraram em tudo que se movia. As pessoas tentaram fugir e não conseguiram, sendo obrigadas a retornar para a feira, onde as que não morreram por tiros foram queimadas. Uma senhora que trabalha na cidade de Tilaberi, capital regional, compartilhou imagens das ruínas da localidade, onde ela perdeu toda a sua família. As sociedades nestas regiões, como é o caso de Tilliya, estão distantes de grandes centros, então têm como característica o fato de toda comunidade ser formada com fortes laços de parentesco.


Uma delegação do governo do Níger, liderada pelo primeiro ministro Brigi Rafini, chegou com as forças de segurança interna e de defesa para se encontrar com a população das cidades vizinhas, pois foram elas que fizeram chegar as informações do massacre. Segundo as informações locais os criminosos eram da sociedade Fula.


Este ataque ocorre após as eleições de segundo turno, nos quais Mohamed Bazoum, que é também do Norte, ganhou. O atual presidente Mahamadou Issoufou, como o eleito Mohamed Bazoum, apresentaram suas condolências prometendo que o governo do Níger fará tudo para proteger sua população.


Os ataques contra as populações nestas regiões fronteiriças se multiplicaram a partir de 2017. O massacre de Tilliya é o ato de terrorismo mais recente na região de Tilaberi, apesar da presença de forças internacionais com mais de 15 mil soldados, equipados com as mais recentes tecnologias de guerra. As populações das fronteiras entre Niger e Mali, questionam como as forças internacionais situadas na região não conseguem localizar estes criminosos. As populações Kel Tamacheque têm sido alvo de bombardeios das forças francesas ou da ONU (MINUSMA).


No dia 25 de março de 2021, os helicópteros das forças francesas de Barkhan, no Mali, mataram seis adolescentes que se abrigavam sob uma árvore enquanto caçavam coelhos, próximo a cidade de Talatayt, na região de Gao.

Esses eventos ameaçam também a paz entre povos que habitam o Sahel há séculos, tais como Fulas, Kel Tamacheque (Tuaregues), Hauças, Zarmás, Mouros entre outras. Há uma desconfiança de que interesses externos estejam por trás desses crimes. Grandes potências? Uma nova guerra na África? Como responder a essas questões? Quem financia esses terroristas?

*Mahfouz Ag Adnane é Doutor e mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/SP, mestre em História da África Contemporânea pela Universidade do Cairo. Concluiu especialização em História Africana Contemporânea no Instituto de Pesquisa e Estudos Africanos da Universidade do Cairo. Graduou-se em história pela Universidade Al-Azhar, Egito, em 2010. Dedica-se aos estudos sobre a história do Saara, principalmente, da sociedade Tamacheque (Tuaregue), tanto no período colonial como após as independências dos países africanos. É membro e pesquisador da Casa das Áfricas, núcleo Amanar; membro do Centro de Estudos Culturais Africanos e da Diáspora – CECAFRO/PUC-SP. Contato: [email protected]

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Written by leticia oliveira