O Exército Árabe Sírio (SAA) tem conquistado importantes progressos na província de Idlib (e também parte do oeste de Aleppo), no noroeste sírio, uma região controlada por rebeldes – principalmente pelo HTS – Hayat Tahrir Al-Sham, exército salafista jihadista com origens na Al Qaeda síria e que hoje é o maior e mais forte exército denominado “rebelde” no país.
Junto a aliados, grupos armados voluntários, o Hezbollah e com o apoio da força aérea russa, o SAA está próximo de fechar uma corredor que dividirá essa região controlada pelos rebeldes em duas grandes partes, conforme indica o mapa abaixo. As tropas leais ao presidente sírio partem em duas frentes: desde Aleppo, ao norte, e desde Hama, ao sul. É também nessa região que se encontra um pouco do que restou de presença armada do ISIS, também inimigo da HTS e do SAA, que nos últimos dias conquistou alguns modestos vilarejos dos rebeldes.
Assad concentra agora suas atenções na região de Idlib após a vitoriosa incursão militar realizada ao sul do país, reconquistando cidades como Palmyra e Deir Ez-Zor, além das vitórias curdas sobre o ISIS nas cidades de Tabqa, Raqqa e também ao leste de Deir Ez Zor.
Holofotes internacionais sobre a região e a questão turca
Essa mesma região de Idlib foi pauta das reuniões em Astana, capital do Cazaquistão, no ano passado, reunindo Rússia, Turquia e Irã, com objetivo de estabelecer um diálogo direto entre os países numa perspectiva de “buscar a paz” na Síria. Em maio de 2017 os países chegaram a um acordo que previa o estabelecimento de quarto “zonas seguras” na Síria, dividindo entre eles a responsabilidade de colocarem em operação esse plano, e Idlib foi definida como uma delas, tendo a Turquia como o país responsável por sua ocupação militar.
Em reunião em outubro do ano passado na capital cazaquistanesa, foi definida a intervenção militar turca na província, e no mesmo mês tropas de Erdogan atravessaram a fronteira síria e se instalaram ao sul de Efrin, cantão curdo que encontra-se isolado dos demais territórios controlados pelos curdos na Síria. Situada ao norte de Idlib e noroeste/oeste de Aleppo, essa instalação fechou um cerco militar em Efrin, que faz fronteira ao norte e oeste com a própria Turquia, ao sul com a região agora ocupada pelos turcos e ao leste com os rebeldes apoiados e sustentados por Ancara.
Desde então, hostilidades foram registradas entre o exército turco e as forças curdas (YPG, YPJ e SDF), que variaram desde drones sobrevoando Efrin até combates isolados entre as duas forças. Com isso, hoje é possível perceber que o objetivo inicial da presença das tropas de Erdogan na região – promover a paz na região – vem se dissolvendo com o aumento deliberado da escalada de tensão com os curdos, conforme já era de se esperar.
Assad próximo a dividir o bastião rebelde em dois
Ao que tudo indica, o que se avizinha nesse contexto é a divisão da região controlada pelos rebeldes em duas partes, por conta do rápido avanço das tropas SAA e aliados nas duas frentes. É provável que, uma vez estabelecido o corredor entre as províncias de Aleppo e Hama e que tomará praticamente todo o sudeste da província de Idlib, o foco das SAA será primeiramente recapturar a parte dividida ao leste, reconquistando o controle da região das mãos dos rebeldes e do ISIS, para depois concentrar seus esforços na região oeste, onde há a presença mais densa das forças HTS e também da Turquia.
É certo que outras regiões ainda estão em mãos rebeldes ou jihadistas, como uma parte da periferia de Damasco e outras áreas desérticas ao sul e sudeste sírio; mas provavelmente é em Idlib que reside a última grande resistência a ser enfrentada por Assad na sua luta contra rebeldes e jihadistas.
Por fim, uma vez logrado êxito em Idlib e nos bastiões rebeldes e jihadistas restantes, certamente o foco de Assad voltará contra os curdos. Basta saber se sua relação com os curdos será política, diplomática ou militar.