in

Combates e bombardeios continuam intensos em Afrin; curdos acusam Rússia de cumplicidade

Mapa de Afrin
Mapa de Afrin

Após mais de 24h de agressão turco-jihadista, os combates e bombardeios continuam intensos no cantão de Afrin, em Rojava, norte da Síria.

A Rússia

Os curdos acusaram [2] [3] a Rússia de cumplicidade com a agressão turca, por haverem consentido com Erdogan em relação a essa operação que objetiva massacrar os curdos, sua paz, seu projeto político e sua autodeterminação no país sírio.

Conforme informou a jornalista Aylina Kilic, o oficial curdo Aldar Xelil declarou que “ontem a Rússia pediu-nos para entregar nossas regiões ao governo [sírio]. Nós não aceitamos, e não vamos render os nossos territórios. Vamos defender todas as nossas áreas“.

Imprensa pró-Russia inclusive já tem tratado como “forças opositoras” os rebeldes jihadistas, que lutam pela derrubada do governo de Assad e que eram considerados “terroristas” até a última semana.

Balanço do YPG e declaração da YCR

Segundo balanço do YPG (Unidades de Proteção do Povo, exército curdo):

– 6 civis martirizados e 13 civis feridos.
– 6 lutadores SDF martirizados.
– Quartetos militares turcos em Til Cibrin destruídos.
– 10 jihadistas e 4 soldados turcos mortos durante confrontos.
– Tropas turcas e jihadistas recuando de todas as áreas

As forças YCR (Yekitiye Ciwanen Rojava – Youth Union of Rojava) publicaram declaração repudiando o que chamam de “ataque do Estado fascista da Turquia” e que se unirão às YPG e YPJ na resistência à invasão turca. Ainda em sua declaração, destacaram (tradução livre):

Se todos se lembrarem, durante Kobanê [quando Kobanê, cidade curda, estava quase sob domínio total do ISIS], Erdoğan estava gritando todos os dias: “Kobanê vai cair hoje, vai cair amanhã”. Isso é o que ele disse, mas com a resistência valente de milhares de mártires, Kobanê não caiu, mas se tornou o símbolo do livre arbítrio das pessoas. Olhe onde estamos hoje. Os povos do norte da Síria estão de pé juntos e com a nossa luta comum, como árabes, curdos, sírios, assírios e turcos, nós não só nos defendemos, mas destruímos o Estado islâmico, a sua capital foi libertada com o esforço e o sangue de centenas de Lutadores da liberdade. Assim, a irmandade das pessoas e uma Síria democrática tornaram-se realidade. Hoje eles estão tendo planos sujos novamente.

Combates e bombardeios seguem intensos

Combates intensos estão ocrrendo principalmente em três frentes, todas próximas à fronteira turca: no vilarejo de Bulbul e redondezas, ao norte do cantão; no vilarejo de Shankil, noroeste/norte do cantão; e no vilarejo de Adah Manli, noroeste/oeste do cantão. Estes dois últimos, “rebeldes” da “Legião do Sham” reivindicaram terem capturado-os, mas são informações ainda contraditórias com fontes pró-curdas.

Os bombardeios continuam intensos em toda a região de Afrin, de norte a sul, concentrando-se na cidade de Afrin, que fica na região central do cantão.

Solidariedade

Solidariedades são registradas em outras cidades e regiões sírias, desde Kobani até a província de Deir EzZor, província inclusive em que há jovens que estão dispostos a irem a Afrin para somarem às fileiras de resistência.

Erdogan

O presidente turco tem feito duras declarações no decorrer da operação: em um comunicado, ameaçou os EUA dizendo que, caso suas forças ousassem entrar em território turco, “não o suportaria por muito tempo”; em outro comunicado, falando a respeito das manifestações convocadas pelo partido turco HDP que é pró-curdos, disparou resolutamente: “vocês não vão sair às ruas, nossas forças de segurança vão parar vocês“. Em sua obstinação racista anticurda, Erdogan tem demonstrado sua profunda semelhança com Netanyahu e demais chefes de estados judeus antipalestinos; com essa política fascista, agressora e assassina, confundir Turquia e Israel seria no mínimo razoável.

Repercussão mundial

O ministro de relações exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, pediu uma reunião urgente do Conselho de Segurança da Onu para tratar da operação de invasão turca a Afrin. A ministro das Forças Armadas da França, Florença Parly, também fez uma declaração sobre o assunto e disse que o Estado turco deve parar seus ataques contra os curdos porque isso enfraqueceria a luta contra o ISIS.

O Ministro de Relações Exteriores do Egito condenou, em comunicado oficial, os ataques de Ancara no norte da Síria, afirmando que eles são “uma nova violação da soberania da Síria“.

O Irã também condenou os ataques de Ancara em recente declaração oficial: “A agência de notícias IRNA oficial do Irã informa que o Ministério das Relações Exteriores do país condenou o assalto turco à cidade síria de Afrin e expressou suas preocupações com esta operação.

Neste link é possível acompanhar atualizações das declarações dos Estados a respeito do assunto.

Facebook Comments Box

Written by P.A Gatti

Interessado no Oriente Médio e na questão curda em especial, posto eventualmente no Coyote sobre esses e outros assuntos políticos.