Origens e pautas:
Hoje em dia, em meio de tantos discursos e práticas diferentes, as vezes é difícil entender o que é exatamente o feminismo. Então, pensamos em escrever algo bem breve e simples para que palavra “feminismo” se torne algo um pouco mais claro para vocês que estão nos lendo agora. Primeiramente, a origem da palavra “feminismo” vem da língua francesa “féminisme” e teve seu primeiro registro escrito (conhecido) em 1837, na França.
O Feminismo é tanto um tema de debate, quanto uma teoria e uma ideologia que sustenta a igualdade política, social, econômica e cultural de ambos os sexos, que entende que as mulheres são as autoras de suas vidas e as protagonistas da luta para sua emancipação e libertação.
Feminismo também é : a ação social e as atividades organizadas em favor dos direitos e interesses das mulheres e da transformação das relações de poder entre homens e mulheres. O feminismo também preza pelo aprimoramento e a ampliação do papel e dos direitos das mulheres na sociedade tanto ao nível político quanto social, econômico e cultural. É preciso entender que a subordinação da mulher não se dá de forma natural ou biológica, independentemente de ser o que a sociedade (a Igreja, o capitalismo e o patriarcado) nos faz acreditar; ela é, ao contrário, produzida socialmente por condicionamentos culturais e materiais. O feminismo representa então a garantia da emancipação da mulher e aponta para a necessidade de uma luta pela mudança das estruturas da sociedade e tem como um dos principais seus objetivos combater o machismo e o sexismo incorporados em nossa sociedade atual.
A sociedade onde vivemos hoje, é uma sociedade que está dividida em classes e diante disto, o capitalismo trabalha lado a lado do patriarcado, sempre reforçando a sua ideia central de que o lugar da mulher na sociedade é de submissão e de inferioridade em relação ao homem. Tendo em vista a forma em que o patriarcado alimentou durante milhares de anos (e ainda hoje alimenta) basicamente todas as esferas da sociedade, sendo elas, as religiões, as ciências, os espaços sociais e os locais de trabalho (e por ai vai), o resultado nada mais é do que uma serie de consequências onde vemos que, durante todos esses anos, foram reproduzidos dogmas, ideias, leis e argumentos que fragilizaram as mulheres e seus corpos, reprimindo então a sua inteligência e seus direitos, reservando-lhes na maioria das sociedades (atuais ou não) desvantagens e injustiças econômicas, sociais, políticas e culturais. Para citarmos alguns exemplos, tem o que chamamos de “cultura do estupro” e o “slut shaming”.
A cultura do estupro:
A cultura do estupro vem do termo “Rape Culture” que foi inicialmente utilizado pelas feministas dos Estados Unidos nos anos 70. O termo “cultura do estupro” foi desenvolvido a fim de mostrar como a sociedade culpava as próprias vítimas de abuso sexual e normalizava a violência sexual contra a mulher. A cultura do estupro é um conjunto complexo de crenças que encorajam agressões sexuais masculinas e apoiam a violência contra a mulher. Na cultura do estupro, as mulheres vivem uma continuidade de ameaças violentas todos os dias que podem começar por cantadas de rua (assédios verbais com conotações sexuais) e levar até assédios físicos e/ou até mesmo ao estupro. A cultura do estupro está nas imagens, na linguagem (piadas, gírias, expressões, etc.), nas leis, na TV (filmes, series, propagandas, comerciais) e em outros fenômenos que nós vivemos e testemunhamos todos os dias que fazem a violência contra a mulher parecer algo normal e nós acabamos acreditando que o estupro é algo inevitável; que isso é “apenas como as coisas são”.
O Slut shaming:
Slut shaming é o fenômeno em que as pessoas degradam e/ou ridicularizam uma mulher pelas roupas e/ou pela a quantidade de maquiagem que ela usa, pelo fato de gostar de sexo ou por causa de algum rumor de que ela pratica atividades sexuais e/ou tem uma vida sexual ativa como o homem. Umas das traduções possíveis (pois existem várias) para esse termo seriam “constrangimento de vadia” ou “constranger uma vadia”.
A mensagem que a sociedade patriarcal passa para as mulheres é que sexo é ruim, que ter relações sexuais com mais de uma pessoa é horrível para sua dignidade e que as pessoas vão sempre te menosprezar e te fazer se sentir culpada por gostar de sexo e/ou ser sexualmente experiente, e/ou simplesmente pelo fato de ter desejo sexual. Ou seja, qualquer coisa que as mulheres façam que fuja da normatividade pudica e machista de nossa sociedade será julgado como imoral e então, as mulheres e sua sexualidade se veem constantemente sob controle e vigilância de terceiros, sendo julgadas e restringidas as normas sociais.
O Slut shaming contribui com a cultura do estupro veiculando a mensagem de que “não tem problema” estuprar “vadias”. Pois pelo fato de fazer [ou gostar de] sexo, simplesmente usar roupas apertadas ou reveladoras de certa forma elas estão “pedindo por isto”.
O estupro é causado por estupradores, misoginia, violência estrutural e tolerância institucional. Não pelo seu modo de se vestir ou pela sua maquiagem, não pelo sua forma de falar (falar palavrão, por exemplo, “não é coisa de mulher”), ou seu modo de andar, não por ela beber [ou pela quantidade de bebida alcoólica que ela possa ter ingerido], ou por não ter sido “cuidadosa” o suficiente e muito menos por ela ser uma “vadia”. A culpa nunca é da vítima e sim do agressor e nós devemos parar de responsabilizar e culpabilizar as mulheres por qualquer violência que elas venham a sofrer em suas vidas.
Todas a mulheres merecem ter o direito sobre seus próprios corpos, suas vontades e seus desejos, e devem sempre ser respeitadas independente de qualquer coisa, pois não somos objetos e sim seres humanos com o direito a nossa autonomia e as nossas próprias decisões.
O feminismo na sociedade machista:
O feminismo não é neutro: através da emancipação política, econômica e social das mulheres, ele preza então pela destruição do patriarcado, como luta essencial para poder se alcançar uma transformação social, uma sociedade justa para todos e todas. A destruição do patriarcado e a transformação das relações de poder entre os gêneros, não devem ser vistas como dissociadas da luta para uma transformação geral da sociedade. A luta pela igualdade de gêneros é indispensável para a construção de uma nova sociedade justa, socialista e libertária. Portanto, nós devemos entender que o patriarcado não acabará necessariamente com o fim do capitalismo, pois o mesmo já existia em sociedades onde o capitalismo ainda não tinha feito aparição. Certamente, com a chegada do capitalismo, o patriarcado tornou-se ainda mais forte e poderoso do que já era, pois, o capitalismo trouxe outras e novas formas para a exploração da mulher na sociedade. Temos um exemplo aparentemente simples disso, que seria o trabalho doméstico não remunerado da mulher, que é sempre inviabilizado, levando os homens a trabalhar fora de casa e a esquecer que existe o que é chamado de “jornada dupla ou tripla de trabalho”. Pois a mulher fornecendo essas jornadas duplas (ou triplas) de trabalho, fora e dentro de casa, acaba dando um certo conforto para o homem e, também para a empresa onde ele trabalha, pois ele não precisa chegar cansado no trabalho, já que tem uma mulher que faz todas as tarefas domésticas e que também cuida das crianças e dos afazeres da casa, etc. Ou seja, enquanto a sociedade classista, machista e racista não se transforma, as mulheres devem lutar para ter o direito aos mesmos espaços de participação que os homens. Elas devem ter direito a saúde reprodutiva integral (direito ao aborto, por exemplo), as mesmas condições no mercado de trabalho e nas instituições de ensino, programas de combate a violência, de acolhimento de vítimas e espaços de grupos de mulheres para conversas com profissionais da saúde (terapia popular), por exemplo. Na esquerda em geral e nos movimentos sociais e organizações populares, é também importante que as mulheres tenham seus espaços auto-organizados (espaços feitos por e para as mulheres) para poderem se empoderar como mulheres antes de qualquer outra coisa. Essas questões básicas, infelizmente, ainda estão hoje muito distantes da realidade das mulheres e por isso, elas precisam do feminismo como ferramenta de luta para alcançar essas mudanças.
É importante lembrarmos que o feminismo e sua luta, embora sejam indispensáveis, não são o suficiente para a construção de uma nova sociedade. Dessa forma, nós mulheres feministas, devemos: trabalhar de forma solidária junto a todas as outras lutas libertárias, sempre tendo em mente as convergências que existem entre essas e a pluralidade das mulheres e devemos também ter nossa própria autonomia de luta, sempre respeitando a dos outros movimentos populares que estão em nossa volta.
O feminismo não é um só. Ele tem várias correntes e vertentes diferentes (em um próximo texto falarei um pouco mais sobre isso) que nem sempre defendem as mesmas coisas, mas para podermos alcançar juntas a destruição do patriarcado e do capitalismo e, enfim, a transformação social (real) de nossa sociedade, será necessário trabalharmos em conjunto e juntar nossas forças, independente dessas divergências, sempre apontando para a libertação e emancipação da mulher, seja ela camponesa, negra, transexual, proletária e precarizada da cidade, etc.
Fontes e outras leituras que possam interessar vocês:
http://ateologiafeminista.blogspot.com.br/2010/11/introducao-ao-feminismo.html
http://diariosdeumafeminista.blogspot.com.uy/2016/11/afinal-o-que-e-feminismo-interseccional.html
http://www.feministacansada.com/post/31469932486
http://blogueirasfeministas.com/…/cultura-do-estupro-e-slu…/
http://escrevendoumafeminista.blogspot.com.br/…/slut-shamin…
https://www.youtube.com/watch?v=IbhiyxCfSQQ