Ultimamente se usa a palavra “fascista” a todo momento, de modo que normalmente ela é utilizada mais em sentido exagerado do que real. No caso da Síria, no entanto, seu uso é rigoroso, sem nuances, uma definição. O regime de Bashar al-Assad é fascista e, portanto, é lógico que suas referências europeias sejam fascistas. Assad tem governado durante 16 anos. Ele o faz como sucessor de seu pai, Hafez, que atuou como ditador da Síria por 29 anos. Ambos somam 45 anos no poder. Pode algum democrata apoiar este regime?
O fascismo é um governo autoritário, baseado na suposta supremacia de um grupo étnico, com políticas corporativas e militarização do Estado. Tudo isso se aplica ao governo de Assad, pai, filho e primos ou tios que controlam 60% das empresas sírias. Talvez esse seja o toque distintivo do fascismo sírio: a corrupção. No entanto, no resto há uma continuidade. O pai, Hafez, recebeu o líder do SS nazista, Alois Brunner, que morreu há quatro anos em Damasco. Brunner, um nacional-socialista antissemita e agressivo, um dos líderes diretos da “Solução Final”, foi contratado por Hafez al Assad para reorganizar os temidos serviços secretos do regime com base nas SS. Ele fez isso com perfeição e portanto sofreram dezenas de milhares de civis, especialmente muitos curdos.
Todos esses elementos, se você quer ser subjetivo, podem ser contrastados com os parceiros políticos do governo sírio na Europa. Ontem, por exemplo, a televisão pública síria, entrevistou visitantes “ilustres” convidados pelo parlamento sírio: uma delegação da extrema direita européia. Não é simplesmente a extrema direita mais populista, mas os grupos mais radicais e herdeiros do fascismo italiano e do nacional-socialismo alemão. Entre eles, Roberto Fiore, líder do grupo Forza Nuova, fundado em 1997 com base no ideólogo Nazi Evola, pro nazista. Fiore define-se como um “fascista” e seu partido é anticomunista, opõe-se à democracia e tem posições ultra-católicas. Um exemplo é a sua homofobia.
Não é a primeira vez que Fiore visita a Síria para mostrar seu apoio à Assad. Ontem ele fez isso, mais uma vez, acompanhado por seu camarada Udo Voigt, líder do Partido Nacional Democrata (NPD). Atualmente, herdeiro direto do partido nazista de Hitler. Na verdade, o NPD foi fundado por oficiais nacional-socialistas como o Partido do Reich alemão em 1950. Foi apenas em 1964 que ele disfarçou seu nome. Ao lado deles apareceu o neofascista belga Hervé van Laethem, secretário do movimento Nação, e condenado várias vezes pelo racismo nos últimos anos. Algum antirracista pode apoiar esse regime?
Não se trata de exceções. Nem mesmo acontecimentos unilaterais. A colaboração entre Assad e o fascismo europeu é um continuum. Na verdade, um dos partidos que apoia o regime é o Partido Social Nacionalista Sirio (SSNP). Seu símbolo não esconde a referência à suástica nazi. Suas marchas paramilitares são quase idênticas às dos camisas negras fascistas de Mussolini. E não é pequeno. Com mais de 100.000 membros antes da guerra, o SSNP é o segundo maior partido legalizado da Síria que apoia o sinistro Baath de Assad, que combina o nacionalismo-social árabe com a lealdade familiar. Este partido foi criado no auge do fascismo em 1932 e tem dois ministros no governo sírio. É possível que um antifascista apoie esse regime?
Continuemos. Outro habitual em atos oficiais na Síria é Nick Griffin, ex-líder até 2014 do Partido Nacional Britânico. As visitas do líder neofascista britânico, por exemplo, na recente “conferência antiterrorista”, são constantes. Griffin, ex-deputado do BNP, foi condenado por ódio racial em 1998 e 2006 no Reino Unido. Como os líderes do Irã, outro Estado aliado a Assad, defendeu posições negacionistas do Holocausto nazista.