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Brasileiro militante da UP relata agressão policial durante manifestação nazista em Lisboa

Um brasileiro de 33 anos teve um dos dedos da mão direita quebrado durante uma ação policial no último dia 3 de fevereiro, data em que uma marcha neonazista convocada pelo grupo 1143 foi realizada em Lisboa. Desfilando com tochas nas mãos e aos gritos contra imigrantes, o ato provocou choque entre as pessoas que passavam ou trabalhavam na região. Por questões de segurança, o militante do partido Unidade Popular pelo Socialismo (UP) preferiu não revelar o seu nome.

Ele conta que ao chegar à Praça do Município para se juntar à contra-manifestação antifascista que estava concentrada naquele local, foi surpreendido pela abordagem truculenta da Polícia de Segurança Pública (PSP). Ele afirma ainda que todas as pessoas foram retiradas com violência para que os neonazistas pudessem chegar até a sede da Câmara Municipal (prefeitura no Brasil). 

Entre os feridos, estavam dois jornalistas dos veículos Setenta e Quatro e Fumaça. A revista Roadie Crew também reportou o caso de um músico brasileiro que está sendo ameaçado de morte pelos nazistas. “Fomos agredidos por uma tropa de choque com cassetetes e escudos. Meu dedo mindinho da mão direita foi quebrado, tive lesões no joelho direito, na perna esquerda e também atrás do joelho”, relatou a vítima.

Vivendo há 7 anos na capital lusitana, o jovem disse que decidiu migrar para Portugal em busca de um emprego para poder ajudar a família que está no Brasil. Além de atuar na área de TI, o paulistano também trabalha como tatuador. “Na hora, como eu estava com o sangue quente, não fui direto ao hospital. Voltei para a praça do Intendente onde acontecia um ato em solidariedade aos imigrantes organizado por entidades e coletivos antirracistas. Só consegui me deslocar até as urgências da CUF mais à noite, quando percebi que a cor do meu dedo estava mudando”, explicou o brasileiro que fez questão de reforçar que foi bem atendido pelos profissionais de saúde.

O jovem brasileiro de 33 anos teve o dedo da mão direita quebrado e
foi atendido nas urgências da CUF, em Lisboa


O protesto chegou a ser proibido pela Câmara Municipal e pelo Tribunal Administrativo após um parecer das forças de segurança, que indicava falta de garantias para manter a ordem pública. Entretanto, depois que os organizadores resolveram transferir o ato para a Praça Camões, o cortejo acabou recebendo escolta policial do início ao fim. “Não consegui ver a marcha de perto, a polícia nos reprimiu e nos empurrou para a rua do Corpo Santo. Fomos fechados para que eles pudessem passar ao fundo, distantes de nós”, relatou.

A princípio, a procissão liderada por um dos neonazistas mais conhecidos do país, aconteceria na região da Mouraria e do Martim Moniz, zonas muito frequentadas por imigrantes oriundos do sul da Ásia, do Oriente Médio e também pela comunidade brasileira, a maior entre os estrangeiros em Portugal. Em vários momentos, registramos membros fazendo gestos nazifascistas durante o percurso enquanto saudavam Salazar, ditador que governou Portugal antes da Revolução dos Cravos. Muitos gritavam  “Portugal é nosso” e pediam o fim do que chamam de “Islamização da Europa”, mesmo sabendo que hoje a comunidade islâmica representa apenas 1% da população do país.


Apologia ao nazismo


Em Portugal não existe legislação específica afirmando expressamente que fazer apologia ao nazismo configura crime, como acontece no Brasil e na Alemanha. No entanto, se o gesto for praticado publicamente pode ser entendido como um ato de incitação ao ódio, cabendo punição pela lei portuguesa. Até o fechamento desta matéria, não tivemos informação sobre o indiciamento de nenhum dos participantes identificados nas imagens.

Para o jovem militante da UP, a sociedade portuguesa precisa se organizar para combater esse tipo de iniciativa, lembrando que o Brasil já passou por algo semelhante através do que ele chama de ‘pânico moral’ para atacar grupos minoritários. “Eu, sinceramente, não tenho noção se o Chega pode ascender de forma eleitoral, porém, pelos vídeos que vi, é realmente preocupante”, alerta o brasileiro ao lembrar que muitos que estavam presentes na marcha se diziam apoiadores do partido de André Ventura.

https://www.instagram.com/hedflow/reel/C251CpKNwae

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Written by leticia oliveira