Artigo de opinião por: João Barreto Leite
O Brasil dá início ao período eleitoral e se depara com um fenômeno muito recente que vem acontecendo em outras democracias ao redor do mundo, o enfraquecimento da influência de uma mídia tradicional, antes muito potente e monopolista, dando espaço para a internet. Os candidatos da mídia tradicional sofreram esse impacto, percebendo os meios de comunicação que antes sustentavam toda uma forma política de hierarquia partidária se reorganizar, a forma de fazer política no país mudou muito desde a última eleição presidencial.
Nessa mudança, os candidatos ficam indefinidos para a mídia tradicional, que mesmo estando constantemente interagindo com a política das mais diversas formas, não tem mais o vigor que tinha nos tempos em que a televisão era mais forte, na época em que as emissoras e os jornais impressos eram praticamente hegemonia. Independente dos meios que os candidatos usam para conseguir sucesso em um mundo onde a cultura é ditada pela internet, os políticos da mídia tradicional se enfraqueceram e vivem em uma disputa que também é midiática.
Dois exemplos claros dessa forma de insurgência política são Trump e Bolsonaro. Cada um com suas peculiaridades, são pessoas muito diferentes que se encontram em várias opiniões como o machismo, a xenofobia e a homofobia. A grande maior entre os dois é a forma de insurgência política via internet.
Não pensem que Jair Bolsonaro como presidente seria como Donald Trump é para os EUA. Dá para entender os motivos que levam um norte-americano a defender o Trump, mas esses motivos não podem ser vistos pelos brasileiros no Bolsonaro.
Vejo que a candidatura do Bolsonaro é até um processo bem análogo ao que aconteceu com Trump. Um candidato conservador com simpatias racistas que se camufla em alegações rasas sobre patriotismo, bombardeado pela mídia, e que conseguiu crescer de uma forma muito estranha e sintética pela internet, fora da mídia tradicional.
No entanto, Bolsonaro não conseguiria ser protecionista da mesma forma que Trump consegue nos EUA, ao tentar barrar a economia chinesa por exemplo. O resultado de uma eventual vitória de Jair Bolsonaro seria uma agenda de venda de setores estratégicos do Estado Brasileiro e uma repressão sem precedentes a qualquer um que entenda esse fascismo de mercado e a polícia trabalhando cada vez mais treinada para a repressão de movimentos políticos contrários ao governo.
Um dos setores estratégicos, além de muitos outros que aqui poderiam ser colocados em pauta, é a educação. As escolas e faculdades públicas entram em grande risco quando falamos de um candidato a presidência como Jair Bolsonaro, ainda mais quando o processo de privatização e enriquecimento do setor privado da educação de várias formas acontecendo no país. E a educação é apenas uma das áreas em que uma privatização poderia ser implantada de forma mais drástica e violenta, de forma perceptível para a população. O estado mínimo se tornaria o braço armado do capital de uma forma mais evidente, nesse ponto já dá para perceber o quanto a retórica do patriota é falsa.
No fim das contas Bolsonaro é o oposto de patriota, defendendo o oposto de uma soberania nacional consolidada, mas nesse sentido ele não se parece com Trump. Na verdade, Bolsonaro cairia como uma luva para o plano norte-americano e seria apenas uma mão na roda da agenda entreguista do estado brasileiro.