in

A marca de um crime

O general se esvaía em lágrimas diante do corpo fustigado pelos punhais da traição. Beijava cada ferida mortal do cônsul desfalecido com profunda entrega, devoção.

Lucius Ignacius Lulius Silvinus havia tombado diante a escadaria do Planaltus. Isso era fato consumado. Um manto vermelho com a águia dourada era sua mortalha. Nos últimos meses, havia permanecido preso por ordem do Magister Morvs na fortaleza de Bicvdivm, após ousar cruzar o rio com seus exércitos.

Edvardvs, o Bretão, estava inconsolável. A massa, que se reunia em torno do ritual fúnebre não entendia grande coisa. Suas pobres mentes, envenenadas pelas palavras dos patrícios, mal concebia a queda de um Caesar, nem o luto de seu mais fiel soldado!

– CONTEMPLEM CIDADÃOS, COM QUAL FÚRIA SE ABATERAM AS PRESAS DAS VÍBORAS SOBRE A NOBRE FIGURA DE SEU CÔNSUL. COMO ELE JAZ ENSANGUENTADO NAS ESCADAS DA CASA DO POVO QUE TANTO AMAVA.

– Ohh!
Faz a massa. com muito assombro.

Os olhos do general vertem emoção. Lembra dos ósculos e das carícias que trocava com seu mentor em sua tenda, durante as perseguições à casa Lulius. Dois homens, másculos, guerreiros, estampados de cicatrizes, conhecendo cada músculo de seus corpos.

– NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DE ROMA UM PLEBEU TEVE TANTO SAL EM SUA MESA OU TANTO VINHO EM SEU CÁLICE, QUANTO TEVE DURANTE A ÉGIDE DA ÁGUIA DE SEU PROTETOR, LULIUS. ESTOU, POR ACASO, A MENTIR?

Os rostos começavam a ruborizar, As vozes a tornarem-se mais roucas e secas de ódio.

– AQUI ONDE A BRANCA TÚNICA FALHA, A ADAGA DE TEMÉRIOS FEZ UM RASGO NA CARNE DESTA ESTÁTUA VIVA.

Vrishh!

EDVARDVS BOLSONARVS rasgou a mortalha pintada pelo púpura do sangue com um gesto demente, enlouquecendo a multidão.

– Precisamos fazer algo, nobre Edvardvs!

– GRITEM GOLPE E SOLTEM OS CÃES DO GOVERNISMO!

5 da manhã. Eduardo Bolsonaro acorda de seu sonho molhado. Suas fantasias com Lula precisam ser consumadas. Coração estourando no peito como tambores de guerra na selva. Uma tropa romana caçando pictos. Suor empapando os lençóis. “Uma foto, logo, por favor”, grita sua mente. O torso nu sob uma paisagem paradisíaca. Aqueles músculos cultivados na labuta da metalurgia em seus tenros anos antes da fama. A culpa é tão prazerosa. O que seu pai pensaria? Ele chega ao clímax.

Um descuido. A marca do crime. Fraquejou. Uma curtida.

Facebook Comments Box

Written by Guilherme Silva